
Investigação forense: entenda o que faz um perito
A busca pela verdade a partir de evidências é o que move a investigação forense. Esse tema foi abordado pelo professor, pesquisador e policial, Carlos Malfatti, atuou como perito judicial biomédico do TJPR, durante sua palestra “Venha ser um cientista forense: CSI na prática”. A fala fez parte do Paraná Faz Ciência 2025, e destacou a importância do trabalho da perícia criminal para a promoção da justiça.
Segundo Malfatti, a escolha pela carreira nasce da curiosidade, mas exige dedicação e estudo contínuo. “É literalmente um trabalho de entrega, de investigação. Muitas vezes os caminhos são árduos, envolvendo muito estudo, para que seja possível adentrar nessa profissão tão importante no cenário da segurança pública”, afirmou o policial.
O papel e os deveres do perito
Chamado pela Justiça para oferecer laudos técnicos em processos judiciais, o perito tem responsabilidades específicas. Entre seus deveres estão: aceitar o encargo da perícia, exercer a função com responsabilidade, respeitar prazos, comparecer a audiências quando intimado com antecedência mínima de cinco dias e, sobretudo, fornecer informações verídicas. O laudo técnico, assinado pessoalmente pelo perito, integra o processo judicial como prova.
O art. 158 do Código de Processo Penal (CPP) reforça essa obrigação, determinando que, quando uma infração deixar vestígios, o exame de corpo de delito é indispensável e não pode ser substituído pela confissão do acusado.
Diversidade de áreas de atuação
A investigação forense vai da coleta de vestígios em cenas de crime à análise laboratorial detalhada, como os exames de DNA, seguindo sempre a chamada cadeia de custódia para garantir a integridade das provas. A atuação é multidisciplinar, envolvendo médicos, físicos, engenheiros e biomédicos, dependendo da natureza do caso.
Na palestra, Carlos apresentou algumas áreas de atuação:
- Perícia em Toxicologia, que analisa substâncias químicas e biológicas, inclusive por meio de exames em cabelos (estrutura capilar);
- Identificação Humana, como a perícia papiloscópica, baseada em impressões digitais;
- Atuação na esfera Cível e Criminal, em processos que vão de acidentes de trânsito a homicídios ou fraudes.

A Unicentro também fornece grupo de estudo em Biotecnologia e Ciências Forenses
Princípio da Troca de Locard
Um conceito essencial para o trabalho pericial é o Princípio da Troca de Locard, formulado pelo criminologista francês Edmond Locard. Ele afirma que é impossível cometer um crime sem deixar vestígios, orientando a coleta de provas materiais em qualquer investigação.
A tecnologia também tem ampliado as possibilidades da perícia. Hoje, é possível usar luz forense para revelar vestígios invisíveis a olho nu e aplicar técnicas de biologia molecular e genética capazes de solucionar casos mesmo décadas depois, vinculando amostras a perfis em bancos de dados.
Apesar dos avanços, Malfatti aponta um desafio enfrentado pelos peritos no Brasil: a falta de reconhecimento constitucional da categoria. Embora os policiais científicos façam parte da segurança pública, ainda não possuem o mesmo amparo legal previsto a outras forças, o que limita a autonomia e os repasses de recursos.
Segundo o profissional, a investigação forense vai muito além da solução de casos isolados. Cada laudo técnico contribui para um sistema de justiça mais confiável e para a proteção da sociedade, mostrando que, por trás de cada evidência analisada, há ciência aplicada em busca da verdade.
Por Maria Vittória Freitas