Pecuária Carbono Zero: o futuro da produção sustentável

Pecuária Carbono Zero: o futuro da produção sustentável

Práticas integradas reduzem impacto ambiental e aumentam a eficiência dos rebanhos

O debate sobre os impactos da pecuária nas mudanças climáticas vem crescendo, e cada vez mais especialistas destacam a importância de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Isso porque, a pecuária é uma das principais fontes de metano, um gás com potencial de aquecimento global muito superior ao do dióxido de carbono, o que intensifica os efeitos do aquecimento global.

Diminuir as emissões significa não apenas contribuir para o equilíbrio climático, mas também garantir a sustentabilidade da produção a longo prazo, já que solos mais saudáveis, pastagens bem manejadas e animais mais eficientes resultam em ganhos econômicos e ambientais.

A proposta da chamada pecuária carbono zero é simples no conceito, mas desafiadora na prática: equilibrar as emissões inevitáveis de gases, como o metano entérico e o óxido nitroso, com práticas de manejo capazes de capturar carbono no solo e na vegetação.

Assim, cria-se um balanço ambiental neutro ou até positivo, tornando a produção mais sustentável, sem abrir mão da competitividade econômica. Uma pesquisa realizada em 2023 pelo Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da FGV, em parceria com a JBS e outras instituições, revelou que 31% das propriedades analisadas removem mais carbono do que emitem, fruto das práticas sustentáveis.

Como alcançar a pecuária carbono zero?

Segundo o pesquisador agrônomo Tiago Baldissera, que atua na área de pecuária e manejo de pastagens na Epagri ( Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina ), não existe uma fórmula única para alcançar esse objetivo, e sim diferentes práticas podem ser aplicadas de acordo com a realidade e a meta de cada propriedade rural.

“Nós temos vários métodos e depende de qual objetivo produtivo. O manejo de pastagens é um dos principais dentro de toda essa lógica de reduzir as emissões, inclusive capturar carbono no ambiente produtivo de pastagens. A partir do manejo de pastagens, a gente consegue maximizar a eficiência tanto da produção da planta quanto da produção animal”, explicou.

O manejo de pastagem é o conjunto de práticas adotadas para administrar o uso das pastagens de forma eficiente e sustentável, garantindo que o gado se alimente bem, que a planta consiga se recuperar e que o solo mantenha sua fertilidade ao longo do tempo.

‘’Essas informações precisam chegar ao produtor, a gente tem as instituições trabalhando para isso, as universidades, os profissionais privados, as empresas públicas têm essa missão de levar o conhecimento tanto para o pequeno quanto para o grande produtor’’ destacou.

Tiago Baldissera em palestra “Descarbonização de processos no meio rural e agregação de valor da pecuária carbono zero” no Paraná Faz Ciência. Foto: Mylenna Dvulhatka

Além do manejo de pastagens, diversas técnicas podem ser aplicadas na pecuária carbono zero para reduzir e compensar emissões, como:

  • Recuperação de pastagens degradadas: restaura áreas desgastadas, melhora a fertilidade do solo e aumenta a capacidade de captura de carbono.
  • Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF): combina árvores, culturas agrícolas e gado em uma mesma área, promovendo sustentabilidade e diversificação da produção.
  • Suplementação alimentar com aditivos: reduz a produção de metano entérico pelos animais, aumentando a eficiência da digestão.
  • Melhoramento genético: utilização de animais mais produtivos e precoces, diminuindo o tempo de produção e, consequentemente, as emissões por unidade produzida.
  • Aproveitamento de dejetos para biogás: transforma resíduos em energia, reduzindo emissões de metano e contribuindo para um ciclo produtivo mais sustentável.

Diante dos desafios da mudança climática, é preciso reforçar que as soluções não dependem apenas de iniciativas locais ou individuais, mas de uma colaboração ampla entre produtores, pesquisadores, governos e consumidores. Cada decisão no manejo da pecuária pode ter efeitos que ultrapassam fronteiras.

‘’Isso impacta a Terra como um todo. O gás que eu emito aqui vai impactar lá na China, na Europa, nos Estados Unidos, em qualquer lugar. Então não é algo apenas local. A gente espera realmente que, tendo essa consciência maior, as pessoas trabalhem para que esse esforço seja conjunto: individual, coletivo e global”, concluiu Thiago.

Por Luiz Henrique 

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