Paraná Faz Ciência é palco do Pré-COP GYCP no penúltimo dia do evento

Paraná Faz Ciência é palco do Pré-COP GYCP no penúltimo dia do evento

Há pouco mais de um mês da realização da COP 30 em Belém (PA), a preparação do projeto Global Youth Climate Pact (GYCP) para o evento fez parte da programação do Paraná Faz Ciência. As atividades incluíram uma palestra do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Nobre, um debate entre o cientista e estudantes que participam do GYCP, bem como apresentações de trabalhos desenvolvidos pelos alunos.

Com o tema “A ciência do Clima Lá em casa”, Paulo dialogou sobre esse projeto, que é realizado em dez escolas de Foz do Iguaçu e Belém, no qual, por meio dos alunos, é possível fazer uma verificação do desvio da precipitação, da temperatura e da umidade esperados nesses locais. A iniciativa demonstra a importância do protagonismo dos jovens na construção de um futuro melhor e na preservação do meio ambiente.

O pesquisador também enfatizou em sua fala a importância da discussão sobre as mudanças climáticas e o combate ao negacionismo por meio do esforço de tornar a linguagem da ciência mais acessível a todos. “A ciência hoje padece de falar uma linguagem que não é compreendida pelas pessoas que não passaram pelas escolas, é mais ou menos como se nós falássemos latim”, diz.

Para o cientista, a emergência climática passa pelo trabalho em conjunto e pela cooperação, dessa forma, é essencial deixar um legado e preparar as futuras gerações para pensar de forma crítica sobre a questão ambiental. Além disso, segundo ele, em se tratando desse tema, precisamos de um esforço global. Deixar uma marca no futuro, não é uma opção, mas um dever de todos. “Esse plantar, na certeza de que nós podemos escolher hoje um futuro brilhante é, para mim, o que eu quero poder deixar, oferecer como legado. Existem possibilidades que são muito amedrontadoras. As mudanças climáticas representam uma grande ameaça, mas não necessariamente um fim de mundo”.

A aluna Isabelle Burnat, de 17 anos, do Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins, foi uma dos estudantes que teve a oportunidade de tirar dúvidas com Paulo Nobre. Para ela, o momento foi de aprendizado, não apenas pelo conhecimento do pesquisador, como também da humanidade presente em sua fala. “Foi muito legal, achei bem interessante, porque ele é uma pessoa que tem essa humildade. Como ele tem muito conhecimento sobre o tema, ele pode passar isso para nós, jovens. Foi um momento de muitas descobertas e de adquirir muitos conhecimentos”, disse.

A jovem acredita que é fundamental criar consciência sobre a emergência climática desde cedo, pois a comoção pelo tema pode transformar o futuro. “Quando a gente vai crescendo, a gente já vai com essa mentalidade, por exemplo, não vou jogar uma latinha aqui porque eu sei que isso contribui com uma inundação. E quando a gente se torna adulto, é mais difícil mudar um pensamento com o qual a gente cresceu”.

Apresentações de trabalhos demonstram o envolvimento e o empenho do alunos

Além da palestra e do debate, também foram realizadas apresentações de trabalhos dos alunos participantes do GYCP, seguidos de questionamentos e contribuições de pesquisadores de diversas áreas. Um deles é o “Escola sustentável – climatize-se”, do Colégio Pedro Carli, orientado pela professora Catiane dos Santos.

Ele consiste numa série de projetos autossustentáveis, como hortas, além do trabalho desenvolvido com abelhas de diversas espécies, com o objetivo de promover a conscientização da importância delas para o mundo. Um dos alunos envolvidos com o projeto, Thiago Vaz Machado, do 9º ano, destacou que com a “sensibilização e o amor pelo clima e pelo meio ambiente podemos ir longe”.

A apresentação também teve a presença virtual do coordenador internacional do GYCP, Alfredo Pena Vega, que enfatizou como os eventos pré-COP demonstram o preparo dos jovens para participar do evento em novembro, assim como evidenciam a principal ideia do projeto, que é a da promoção do contato entre especialistas e estudantes. “A ideia de poder dialogar entre jovens e cientistas de todas as áreas de conhecimento, que é o nosso foco. Poder ter esse diálogo entre o cientista e o jovem, sem um diálogo transversal, não é um diálogo de cima para baixo, nosso projeto é o contrário, o projeto é de baixo para cima. Isso tem muita importância. Ver que o pesquisador e o cientista estão sentados na mesa com os jovens no mesmo lugar”.

O Global Youth Climate Pact (GYCP)

Criado em 2014, na França, o GYCP envolve hoje 32 países e, no Brasil, cerca de 11 estados. O projeto é realizado nas escolas e é pautado no diálogo entre alunos e cientistas, tendo os professores como mediadores. A partir desse contato, os jovens criam e desenvolvem projetos de enfrentamento da emergência climática.

O GYCP mostra a importância de incentivar os jovens, ainda no período escolar, a pensar sobre o futuro do planeta por meio do conhecimento e desenvolvimento do pensamento crítico, como explica a coordenadora do projeto, Adriana Kataoka. “São os jovens que vão conviver com as consequências desse problema por quase uma vida inteira. Então, eles precisam se apropriar desse conhecimento, desse entendimento para que eles tenham condições de contribuir com o futuro”, afirma a docente da Unicentro.

O projeto vai estar presente no próximo mês no COP 30, um encontro global que é realizado todos os anos com líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil, que visam dialogar sobre ações para combater as mudanças climáticas.

Confira os trabalhos apresentados pelos alunos:

  • Avaliação dos impactos das inundações: mitigação e prevenção em contexto de emergência climática;
  • Cultivando saberes: educação socioambiental para escolas sustentáveis;
  • A importância das abelhas na sustentabilidade e na biodiversidade da mata atlântica;
  • Biofertilizante como alternativa para a agricultura sustentável;
  • Análise biológica, física, química e geográfica de arroios urbanos do Parque do Lago em Guarapuava-PR;
  • Escola sustentável – Climatize-se;
  • Semeando o amanhã: jovens na permacultura contra a emergência climática;
  • Jovens pelo clima: ações e reflexões sobre a emergência climática na escola;
  • A educação para mudança climática nos componentes curriculares de robótica, pensamento computacional e a ciência: o protagonista jovem;
  • Água fonte da vida.

Lançamento do livro Experiências e Saberes da Educação Ambiental no Paraná

Logo após as apresentações, foi realizado o lançamento do livro Experiências e Saberes da Educação Ambiental no Paraná, organizado pelos professores Jhonatan dos Santos Dantas, Anderson Moser, Ana Lucia Suriani Affonso e Adriana Massae Kataoka. “Para nós é uma grande satisfação, uma alegria muito grande porque o meu grupo de estudos vem atuando há mais de 20 anos. Tem mais de 80 estudantes de Iniciação Científica, graduação, mestrado e doutorado. Então, nós discutimos problemas socioambientais, por meio da educação ambiental, discutimos os textos científicos, convidamos cientistas, e aí surge a ideia de que um grupo que estuda essas questões, poderia produzir algo coletivamente”, explica a professora Adriana Kataoka.

A obra é fruto do grupo de estudos em Educação Ambiental da Unicentro e reúne o trabalho de diversos pesquisadores. Parte dos resultados também foram publicados nesse ano no dossiê temático “Trajetórias, Pesquisas e Experiências da Educação Ambiental no Paraná”, pela Revista Brasileira de Educação Ambiental (Revbea).

Para o reitor da Unicentro, Fábio Hernandes, o livro é essencial no momento de emergência climática em que vivemos. “Nosso Laboratório de Educação Ambiental é uma referência, é um orgulho. Sabemos de algumas ações já executadas pelo nosso laboratório que fizeram diferença. A mudança climática é uma realidade muito forte, triste, e nós precisamos plantar as sementes aqui para que a situação não piore ainda mais. Regredir a gente não consegue, mas a gente tem que cessar e dar um pouco mais de conforto para o nosso planeta. Então, parabéns a vocês por essa coletânea, parabéns ao nosso laboratório e ao nosso grupo de pesquisa”.

 

Por Ana Flávia Godoy

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